No Vale do Ribeira
As matas ciliares no Vale do Ribeira
As matas ciliares são formações florestais que ocorrem ao longo dos rios, córregos ou no entorno de lagos, várzeas e reservatórios. Protegidas pelo Código Florestal, as florestas ciliares são essenciais para o escoamento das águas das chuvas, estabilização das margens e barrancos, evitando o assoreamento dos rios e possibilitando a interação entre os ecossistemas terrestre e aquático (o que inclui a temperatura da água e a alimentação da fauna aquática e terrestre). As matas ainda desempenham o papel de corredor genético para a flora e fauna, promovendo o fluxo de espécies dentro e entre os diferentes biomas.
Um dos ecossistemas mais explorados nos últimos 20 anos, as matas ciliares se estabelecem como importantes formações florestais a serem conservadas ou recuperadas. O PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) incluiu estas florestas e os temas envolvendo a sua conservação e recuperação como estratégias prioritárias para preservação dos recursos hídricos e da biodiversidade.
A situação no Vale do Ribeira
O Vale do Ribeira abriga a maior extensão continua e conservada da Mata Atlântica no Brasil. Desta área, 78% ainda estão cobertos por remanescentes originais, com alto grau de preservação e endemismo. Em 2003, por meio de uma parceria envolvendo a SOS Mata Atlântica, ISA, Instituto Florestal, Vidágua e ArcPlan, foi possível viabilizar o primeiro projeto de verificação da real situação das matas ciliares na região, denominado de “Projeto APP”, com financiamento do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape (CBH-RB) e Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro). De acordo com o biólogo Clodoaldo Gazzetta, coordenador do Programa Mata Atlântica do Vidágua, e autor do projeto APP, a região perdeu, nos últimos 20 anos, somente na porção paulista da Bacia, 11.596,99 hectares de mata ciliar. Este desmatamento tem consequências graves para toda a região, como o aumento de processos erosivos, comprometimento do solo, assoreamento da calha dos rios, cheias e perda de biodiversidade.
O relatório destaca ainda o uso inadequado que está sendo dado para as Áreas de Preservação Permanente (APPs). Segundo Gazzetta, a pastagem é a atividade econômica que mais expandiu suas fronteiras sobre as APPs da região, ampliando sua área de 1.079 hectares, em 1985, para mais de 1.900 hectares, em 1999, o que corresponde a um aumento de mais de 80% no período. O cultivo da banana também é destacada neste estudo, e representa, hoje, a segunda maior pressão econômica sobre as APPs, ocupando aproximadamente 11,39% destas áreas de proteção, o que equivale a mais de 2.240 hectares.
O estudo verificou também em quais áreas da bacia hidrográfica ainda se pode encontrar mata ciliares preservadas. O município de Eldorado é o que detém o maior remanescente deste ecossistema, são 453,39 hectares de floresta ciliar em bom estado de conservação. Este número representa 17,42% do total de 2.602,47 hectares de APP que o município possui. Dois municípios também se destacam pela proteção de suas matas ciliares: Juquiá, que possui em números absolutos 691,73 hectares de mata ciliar em estágio médio e avançado de regeneração, e Barra do Chapéu, que pode ser considerado o município que mais preserva suas APPs, pois 81,95% destas áreas encontram-se com floresta.
O Vale do Ribeira possui um déficit de mata ciliar da ordem de 10.542,85 hectares, uma vez que 1.054,14 ha são ocupações já consolidadas, com cidades, estradas e áreas antropizadas mais densas. De acordo com Nilto Tatto coordenador do Programa Vale do Ribeira do ISA e um dos idealizadores da Campanha Cílios do Ribeira, a estratégia para os próximos dois anos é recuperar 1.243,33 ha de APPs que hoje estão abandonadas do ponto de vista econômico. Deste total, 1.043,46 hectares correspondem a áreas denominadas "campo sujo" - áreas abandonadas ou sem uso econômico -, e 199,87 são de áreas de solo exposto com alto grau de degradação.
A definição das áreas a serem priorizadas na primeira etapa da campanha foi feita a partir do cruzamento das informações levantadas pelos grupos locais com os dados de uso do solo do relatório sobre a situação das APPs no Vale do Ribeira. Gazzetta afirma que se tratam das áreas com alto grau de degradação e de baixo conflito para as intervenções de recuperação florestal. Neste contexto, as áreas de solo exposto e passível de erosão, e os campos sujos serão priorizadas para os trabalhos iniciais de recuperação.